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O conceito de economia circular ganhou força significativa nos últimos anos, à medida que nações ao redor do globo buscam soluções sustentáveis para enfrentar os desafios ambientais. No Brasil, a indústria automotiva se destaca como um setor crucial onde os princípios da circularidade podem ser aplicados de forma eficaz. Com carros compostos por materiais como plástico, vidro, borracha, aço e outros metais, juntamente com vários componentes como baterias e eletrônicos, existe um enorme potencial para reciclagem ou reuso praticamente total.
No entanto, apesar das perspectivas promissoras, o mercado brasileiro de reciclagem automotiva permanece relativamente pequeno, com apenas cerca de 1,5% dos veículos sendo reciclados. Este artigo investiga o estado atual da reciclagem automotiva no Brasil, destacando os principais desafios e oportunidades, e defendendo um esforço conjunto para abraçar os princípios da economia circular.
Desafios no panorama da reciclagem automotiva do Brasil
O ecossistema de reciclagem automotiva no Brasil enfrenta diversos desafios, principalmente decorrentes de complexidades regulatórias, falta de legislação específica e níveis de fiscalização variáveis entre as regiões, cenário evidenciado pelos baixos índices de reciclagem.
Levantamentos realizados pelo Correio Brasiliense e Sindinesfa estimam que no Brasil apenas 1,5% dos carros em fim de vida são reciclados, enquanto outros países como Argentina, Japão e Estados Unidos possuem taxas entre 80% e 95%, e nações escandinavas como Noruega, Dinamarca e Suécia alcançam 100% de reciclagem.
A ausência de um marco regulatório abrangente dedicado especificamente à reciclagem automotiva dificulta o crescimento e o desenvolvimento do setor. Além disso, as diferenças nas estruturas e órgãos administrativos, somadas às disparidades regionais na fiscalização, contribuem para um cenário fragmentado, impedindo o estabelecimento de práticas e processos padronizados. O estado de São Paulo foi pioneiro ao sancionar uma lei em 2014 que regulamentava as atividades de desmontagem de veículos, como a reutilização ou reciclagem de peças fora de uso.
Nesse contexto, outro aspecto importante na indústria de reciclagem automotiva é a diversidade de materiais. De acordo com estimativas da Renova Ecopeças, empresa referência do setor, cerca de 86% dos materiais de um carro podem ser reciclados.
A ausência de um marco regulatório abrangente dedicado especificamente à reciclagem automotiva dificulta o crescimento e o desenvolvimento do setor. Além disso, as diferenças nas estruturas e órgãos administrativos, somadas às disparidades regionais na fiscalização, contribuem para um cenário fragmentado, impedindo o estabelecimento de práticas e processos padronizados. O estado de São Paulo foi pioneiro ao sancionar uma lei em 2014 que regulamentava as atividades de desmontagem de veículos, como a reutilização ou reciclagem de peças fora de uso.
Nesse contexto, outro aspecto importante na indústria de reciclagem automotiva é a diversidade de materiais. De acordo com estimativas da Renova Ecopeças, empresa referência do setor, cerca de 86% dos materiais de um carro podem ser reciclados.
Oportunidades de desenvolvimento
Apesar dos desafios predominantes, o setor de reciclagem automotiva do Brasil apresenta oportunidades significativas para avanço. A vasta extensão geográfica do país, aliada a incentivos fiscais emergentes e discussões em curso sobre leis de responsabilidade ampliada do produtor, proporciona um ambiente propício para fomentar projetos da cadeia de reciclagem.
Incentivos fiscais como o promovido pelo programa federal Rota 2030, instituído por meio do Decreto 9.557, que visa apoiar o desenvolvimento tecnológico, a competitividade e a inovação, são utilizados pelas empresas para desenvolver soluções e pesquisas em reciclagem automotiva.
Além disso, a atratividade econômica de materiais como aço e alumínio, combinada com as tendências crescentes em direção à descarbonização e eletrificação, reforça o potencial para um crescimento acelerado nas taxas de reciclagem. Isso porque a reciclagem automotiva contribui para a estratégia de descarbonização. De acordo com a Plataforma do Projeto Save Motors, que quantifica os benefícios ambientais da reciclagem:
A reciclagem de 46 carros equivale a uma economia de 40,5 toneladas de recursos naturais, o que corresponde ao consumo médio mensal de 932 residências brasileiras, além de reduzir a emissão de CO2 correspondente à captura de carbono por 5.145 árvores da Mata Atlântica. (Correio Brasiliense)
A presença de empresas especializadas em gestão de logística reversa, principalmente em setores como óleos lubrificantes, exemplifica os esforços colaborativos em curso para aprimorar as práticas de reciclagem. Da mesma forma, iniciativas voltadas para o incentivo da reciclagem de materiais de alto valor, como catalisadores e imãs permanentes, embora emergentes, sinalizam um crescente reconhecimento de sua importância econômica e ambiental.
Recomendações para impulsionar a economia circular no setor automotivo do Brasil
Para capitalizar as oportunidades apresentadas pelos princípios da economia circular no setor automotivo, é necessária uma ação concertada em vários níveis. Em primeiro lugar, os formuladores de políticas devem priorizar a promulgação de regulamentações específicas que governem a reciclagem automotiva, garantindo a uniformidade entre as regiões e acomodando as características únicas de diferentes materiais e componentes.
Em segundo lugar, as partes interessadas da indústria devem aproveitar os incentivos fiscais existentes e explorar caminhos para parcerias público-privadas para investir em atualizações de infraestrutura e tecnologia que facilitem processos de reciclagem eficientes. Recentemente, foi enviado ao Congresso um projeto de lei urgente que institui o Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) para promover a expansão dos investimentos em eficiência energética e descarbonização. Entre as novidades do Rota 2030 estão os limites mínimos de reciclagem na fabricação de veículos e a redução de impostos para os que poluem menos, por meio do IPI Verde (Imposto sobre Produtos Industrializados). O imposto para veículos provavelmente será diferenciado com base em quatro critérios: fonte de energia usada para propulsão, consumo de energia, potência do motor e reciclabilidade. O Mover prevê um total de R$ 19,3 bilhões em créditos financeiros entre 2024 e 2028.
Além disso, o aumento da conscientização do consumidor e a promoção de mudanças comportamentais em direção ao consumo responsável e práticas de descarte adequadas são imperativos para impulsionar as taxas de reciclagem. Iniciativas entre fornecedores de peças automotivas, revendedoras, prestadores de serviços de pós-venda e consumidores para uma reciclagem em ciclo fechado são a chave para uma economia verdadeiramente circular.
Conclusão
Resumindo, o Brasil está em um momento crítico em sua jornada para abraçar os princípios da economia circular no setor automotivo. Embora os desafios persistam, as oportunidades de avanço são abundantes, impulsionadas pela evolução dos marcos regulatórios, incentivos econômicos e inovações tecnológicas. Ao fomentar a colaboração entre as partes interessadas, investir em infraestrutura e tecnologia e conscientizar os consumidores, o Brasil pode desbloquear todo o potencial da reciclagem automotiva, abrindo caminho para um futuro sustentável e resiliente.
Ao adotar uma abordagem holística que aborde aspectos regulatórios, econômicos e sociais, surgem oportunidades para as empresas líderes e visionárias aproveitarem essas iniciativas para se posicionarem como líderes na circularidade automotiva, promovendo resultados ambientais positivos e fomentando o crescimento econômico e a inovação. À medida que o mundo navega pelo caminho em direção a um futuro sustentável, os princípios da economia circular servirão como faróis orientadores, conduzindo a indústria automotiva a uma maior resiliência, eficiência de recursos e responsabilidade ambiental.
Em outras palavras, o setor de reciclagem automotiva no Brasil enfrenta diversas barreiras, como a falta de regulamentações específicas para a reciclagem automotiva, cadeias de materiais não desenvolvidas e alta informalidade no setor. Mas, apesar disso, é um setor com grandes oportunidades de crescimento e de ser moldado, principalmente quando associado a estratégias de descarbonização.
Fontes
- Medida Provisória cria o Programa Mover para descarbonizar veículos brasileiros: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/01/02/medida-provisoria-cria-o-programa-mover-para-descarbonizar-veiculos-brasileiros;
- Correio Brasiliense (1): https://especiais.correiobraziliense.com.br/autopsia-da-sucata/
- Correio Brasiliense (2): https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/04/09/internas_economia,748292/brasil-recicla-apenas-1-5-das-carcacas-de-carros-velhos-e-abandonados.shtml
- Revista Nós: https://nos.insightnet.com.br/renova-ecopecas-promove-a-inclusao-social-com-a-reciclagem-de-veiculos/
- Habilitações de empresas no Programa Mover chegam a 69: https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/maio/habilitacoes-de-empresas-no-programa-mover-chegam-a-69